Pesquisas
Depois de anos tentando evitar o fogo foi preciso reaprender a conviver com ele. Em 2012, o Manejo Integrado do Fogo (MIF) passou a ser adotado pelas instituições públicas federais com atribuições na gestão dos incêndios florestais.
Com o objetivo de responder às mudanças recentes na gestão do tema no país, o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Prevfogo/Ibama) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) promoveram uma ação inédita: A Chamada CNPq/Prevfogo-Ibama nº 33/2018: Pesquisas em ecologia, monitoramento e Manejo Integrado do Fogo.
Além do conhecimento científico produzido, os resultados foram exitosos em muitos níveis. Houve o fortalecimento da estrutura de pesquisa existente no Brasil, no que se refere à ecologia do fogo e MIF, com a capacitação de diversos alunos; e pesquisadores experientes foram expostos a novas formas de discutir a temática, uma vez que o olhar e o diálogo com a gestão pública permearam todo o processo de acompanhamento e avaliação da Chamada.
Brigadistas indígenas e quilombolas apoiaram os trabalhos de campo em diversas áreas de estudo, tendo importante papel, principalmente, durante a pandemia de coronavírus que impediu, por um período expressivo, o acesso às áreas de estudo.
Pesquisadores experientes e pesquisadores em início de carreira que tiveram seu primeiro projeto de pesquisa aprovado com recursos expressivos interagiram ao longo dos anos de duração dos projetos, ocorridos no período de 2018 a 2023, estabelecendo novas frentes de ação e em algumas regiões, otimizando as idas a campo e favorecendo diálogos que não existiam antes dessa Chamada.
A partir dessa Chamada, outros entes de fomento passaram a inserir, em seus editais, diretrizes para que as pesquisas priorizem metodologias participativas envolvendo as comunidades em seus estudos como forma de respeitar e aprender com os conhecimentos dos povos indígenas, comunidades quilombolas, ribeirinhas e outras comunidades tradicionais.
Essa foi uma das poucas iniciativas geridas e financiadas por instituições do governo federal e tendo como áreas de estudo territórios habitados por povos tradicionais, indígenas e quilombolas. Em outras palavras, esta iniciativa valorizou o conhecimento tradicional, além de fornecer ferramentas que auxiliaram a lidar com a temática do manejo do fogo e incêndios florestais em um período em que as mudanças climáticas globais começaram a impor novos desafios para lidar com eventos extremos.
Os temas abordados pela chamada foram:
- Impactos do fogo na biota e nas comunidades tradicionais e proposição de recomendações e protocolos para o aprimoramento das ações de Manejo Integrado do Fogo;
- Avaliação dos impactos socioambientais e culturais da formação, contratação e atuação de brigadistas indígenas e quilombolas pelo Prevfogo/Ibama e proposição de recomendações para aprimorar a participação e integração do conhecimento tradicional na prevenção e combate a incêndios florestais;
- Sensoriamento remoto aplicado à detecção, à prevenção e ao monitoramento de incêndios florestais e proposição de recomendações e protocolos para o aprimoramento do monitoramento remoto;
- Recuperação de áreas degradadas por incêndios florestais: diagnóstico e proposição de metodologias que orientem a tomada de decisão sobre a necessidade e forma de intervenção com foco na recuperação da flora e fauna de áreas degradadas por incêndios florestais;
- Avaliação de risco e impacto do uso de retardantes e outros supressores e recomendações para a normatização.
Relacionados a esses temas, foram escolhidos 25 projetos que resultaram em produtos, insumos e recomendações. As informações coletadas e analisadas podem fornecer uma base sólida para a tomada de decisões por parte de governos, agências ambientais e gestores de áreas protegidas. Isso leva a políticas mais eficazes para a conservação e manejo sustentável das áreas naturais.